O céu cinza de hoje, geralmente, carregaria Marilda de preguiça.
Posso imaginar seu andar recolhido no medo, seus passos contornando o incerto e seus olhos temendo o vazio.
Ela detestava seriamente esses dias assombrados pelo branco no topo do mundo. E o detestar chegava ao ponto de questionar a seu deus porque criara tal nebulosidade em sua vida.
Aquilo era ponto final prematuro em suas decisões, era interrupção certeira em seus afazeres. Marilda era congelada pela frieza do dia nublado, que nem era necessariamente frio, mas que vinha aterrorizando-a há meses.
Amanheceu outro dia. Mais um lotado de nuvens. Avistou pela janela a repetição de tal maldição e voltou a deitar. Deitou, mas levantou em seguida.
Cansada de se permitir tal bloqueio, Marilda vestiu um roupão e saiu esbaforida de casa.
Ninguém entendeu nada. "Será que ela vai cometer uma loucura?" - temeram os vizinhos que acompanhavam de longe sua depressão climática.
E ela voltou. Ao invés de fim, resolveu dar um início.
Cheia de latas de tinta e panos estampados e lisos debaixo do braço, Marilda pôs-se a pintar e costurar.
Pintou o teto de céu ensolarado e costurou tecidos cheios de vida em cada almofada, fronha, lençol e colcha de sua casa.
Daquele dia em diante, Marilda não precisaria mais do céu.
Resolveu que por dentro e por fora, ela seria cor.
Um comentário:
Quando comecei a ler, fiquei pensando aqui que se eu encontrasse esse texto num livro, eu saborearia cada palavra como um belo e promissor começo; daqueles livros que nos prenderá a atenção!
Meu Deus, Mazuza: vc se superou!!
To morrendo de medo de vc dizer q "copiou de algum livro" esse texto, pq nem pensei direito se é do bem ou do mal duvidar da autoria de uma obra....
Enfim, estou sendo muito sincero: vc , Mazuza, tem TUDO A VER com a literatura!!!! Quero passar seus textos p/ algum editor, alguem sei lá quem, terá q te descubrir, filha, pq não é conversa de pai bobo não..
Enfim, tudo a seu tempo..
Corra Mazuza, corra!!!
Agora eu sei
Que cresci
Junto com os meus pecados
E aprendi como eles são engraçados
Eu já vivi de tudo um pouco
Mas tô esperando um truque novo
Que me largue caindo
Do alto de um abismo
O tempo vai dizer
Se o que espero me interessa
Se eu levo a vida
Ou se é ela que me leva.
(Maioridade, Cazuza)
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