Uma menina quase jornalista [a beira de uma séria explosão de nervos] que resolveu te contar uma historinha...
Veja o que acontece.
Sou parte da classe que eu tenho a impressão de ser considerada a pior entre os professores. No que diz respeito ao jornalismo, dificilmente eu consigo identificar aquela veia, aquela curiosidade aguçada, aquela sede de notícia, aquela precisão dos fatos. Na minha sala, especialmente entre os meus amigos, eu vejo mais artistas do que jornalistas. Isso deve irritar profundamente um corpo docente já cansado da bagunça acadêmica que mais parece uma repartição pública mascarada. Imagino que todos eles já foram parte de uma geração questionadora e visionária (ou não), mas pelo menos, esperavam mais de nós. E isso me magoa um pouco. Fico me perguntando se eles deveriam deixar isso explícito para nós; se deveriam deixar transparecer sua braveza, insatisfação, as vezes até traduzida em forma de grosseria desnecessária.
Outro dia faltei da aula de segunda e, justamente nesta aula, o professor esbravejou e deixou claro que a matéria que estávamos, supostamente, produzindo, deveria ser entregue na próxima aula (essa segunda-feira que acaba de passar). Mas, na minha cabeça, por alguma razão, eu tinha certeza de que era só para a outra segunda ainda. Desesperada, no fim de semana, mandei um email pra ele expondo toda a minha confusão, dúvida e preocupação com relação a isso. Pedi, encarecidamente, para entregar na semana seguinte.
Na minha caixa de entrada, nada. Na aula seguinte (anteontem), nada. "Ele não leu", deduzi.
Só que para minha surpresa e posterior frustração, ele tinha lido.
No início da aula, ele exigiu que a metade da sala que não tinha a matéria pronta, fizesse até o fim da aula. Fui então dizer pessoalmente o que tinha escrito no email e mais algumas observações:
_ Não tenho como te entregar isso hoje, não vai ficar bom. Essa exigência sua parece uma indução à invenção de fontes, ou ao plágio de algo na internet.
_ Não, de maneira alguma - respondeu ele, sarcasticamente.
_ Bom, então eu posso entregar segunda que vem? Aliás - finalizei, achando que ele não tivesse visto meu email - pensei que fosse pra semana que vem.
E sabe o que ele fez? Ele riu, ironizou minha preocupação, ridicularizou minha confusão e me chamou de desinformada:
_ Rossi, leia novamente seu email, eu ri muito quando li - E NÃO RESPONDI, ele poderia acrescentar - Está muito confuso. Você tenta defender uma causa, mas não tem informação alguma, não tem sentido algum. (Com uma cara de "nossa, você viajou!")
Aquele ar risonho e provocativo promoveu fumacinhas na minha cabeça. Quase fez escorrer lágrimas nervosas de mim.
Corri reler meu email. "Meu deus, será que digitei alguma coisa totalmente errada, na pressa?!"
E vi que digitei. Errei feio.
Uma gafe gravíssima, eu diria, que só pude notar depois daquele diálogo esclarecedor: Por um instante de pura insanidade mental, juro que cheguei a pensar que poderia conferir a ele minha bagunça, meu fracasso, minha realidade momentânea, na esperança de obter em retorno, sua compreensão, sua tentativa de organizar minha mente caótica universitária, na posição de mestre que ele ocupa.
Mas, para minha decepção e aprendizado, ele não queria me entender, não quis nem por um segundo saber quem eu sou.
Aí que eu errei. Ele só queria que o prazo fosse cumprido, o cronograma robótico seguido e nada mais.