sábado, 21 de março de 2009

Doença Primata


Considerando tudo o mais que sobre mim consta, diria que o que está acontecendo é natural e, infelizmente, previsível.
Lá se vai toda a teoria antiamor pelo ralo da fragilidade que atormenta meus ânimos e devasta certezas como quem destroi um país inteiro.
É coisa que fatia minha paz, meu sossego. Como um ímã, atrai toda uma maré de medos, inseguranças e máscaras.
Tão fácil profanar idéias revolucionárias e pensamentos feministas cheios de amor próprio; palavras jorram aos montes da minha garganta de maneira bastante convincente. O difícil é agir conforme o que é dito e pensado.
Ao que tudo indica, é impossível desviar de um sentimento. E eu insito em querer aprender. Quero evitar dores, horrores, surpresas, decepções, tombos graves, fraturas expostas, luxações dolorosíssimas e tudo mais que envolve o amar.
Não quero me entregar. Ó, irresistível veneno! Que me cura, me suga, me mata, me tortura.
É filme que vive a se repetir. Chega a ser monótono o desfecho e a ausência de grandes inovações enoja, incomoda, porém me faz forte perante o amor.
Talvez não queira mais me fortalecer, então.
Não quero mais vestir essa armadura desconfortável.
Se menos dolorido fosse, se leve fosse como um doce. Mas é fritura, é massa. É tão pesado e gostoso. E por isso me rendo a ela - a velha novidade – e, mais uma vez, os olhos tremem inquietos e as mãos voam aos lábios em busca de respostas. Roer as unhas é o cabe para distrair enquanto a dor não se define, não se aconchega em meio aos meus sentidos.
Não digo que amar seja tristeza. É o oposto. É alegria que não cabe em mim, e é aí que se aloja o medo. É felicidade leviana, certeza incerta, é sentimento traiçoeiro.
Só não queria sentir.
Bastaria-me ser feliz sem alguém para amar ou enganar ou me render ou querer por perto.
Sonho a liberdade de um coração sem dono, exposto ao abandono. Antes isso do que me desmanchar por algo banal, bonito e tão desnecessário. Mas vou amar. Sei que vou chorar e cantar e ainda gritar tanto...
Faça-me então parar; evite este risco! Não posso mais, no escuro de outro alguém me atirar. Quero estancar o amor que não cansa sangrar.

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