sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dependência múltipla

Sou uma dependente.
Já assistiu o filme Clube da Luta? Tyler Durden me chamaria de fracassada.
É ele o autor da frase: "as coisas que você possui acabam te possuindo."
E elas, realmente, são donas de mim. Sou delas.
Pertenço ao meu celular, ao meu celular quando avisa a chegada de uma msg, às pessoas que eu amo, aos elogios que recebo, às ligações telefônicas que espero, ao doce que me sacia a gula, à roupa que me traduz para o mundo. Dependo até do sorriso de um gari. Ao me entregá-lo, aquele homem comum me prova que posso esperar o bem em qualquer canto.
Enfim, depender é fácil. Todo dependente químico está, superficialmente, bem enquanto tem sua dogra por perto. Difícil é a abstinência. Difícil é admitir seu fracasso, sua insuficiência, sua carência. Doi, machuca, sangra por dentro.
Enquanto você está com um cara, por exemplo, ele te ama, ele te supre. As mensagens diárias antes de você dormir são, praticamente, pílulas contra insônia: "Ah! Agora posso dormir, sei que está tudo certo. Sou amada". A presença dele então, quase um anti-depressivo vital.
Mas aí, ele acaba, como um fluido que se esgota num frasco. E deste frasco, não há mais nenhum outro em nenhuma outra farmácia. Pode procurar traficantes, ninguém nunca ouviu falar nesta droga. Até já ouviram, mas não têm pra vender.
É o fim da linha. E as sombras do mundo estão atrás de você. Não há mais droga pra tranformá-las em flores. É tudo por sua conta. Ou se joga, ou se entrega.
É quando você olha pra si e se vê completamente nua, totalmente exposta à todas as dores e sem a sua droga para anestesiar. Sem o seu antídoto para alegrar. Você está ali, sozinha e sem mais ter ao que e a quem recorrer.
É profundo, é surpreendente, é químico, físico, biológico, é real.
É como se você estivesse admirando a vista de um penhasco e, sem nenhum ruído, alguém chega e te empurra. Mas você vestia um paraquedas. Só tem que decidir se vai puxar a cordinha.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

ticici

Esta é uma das variantes para a sigla maldita que atormenta todo universitário em seus últimos suspiros acadêmicos de futuros bachareis.
O tcc é o montro. Matem-no.
O tcc se agarra a nossas entranhas desde o primeiro dia da faculdade, quando os professores prevêem os desafios, lágrimas e momentos desesperadores que passaríamos agora.
Sem dúvida, nesses dolorosos e saborosos 4 anos, fui alimentando esta previsão, fui dando comida ao monstro. E ele, meus caros, foi engordando, crescendo, ganhando cabeças, olhos e até asas gigantes.
No fundo, ele é só um signo, um símbolo hipócrita que a faculdade mercenária impõe e que serve sim de aprendizado para os dispostos a aprender, mas ao passo que vejo toda a bagunça e ineficiência em inúmeros aspectos acadêmicos, um bloqueio mental vai se instalando e me dominando.
Hoje é um dia especial. Resolvi mandar minha revolta passear, o meu monstro multicabeçado tomar um banho e dona inércia calar a boca.
Sim, há 20 dias da entrega daquele cujo nome não deve ser pronunciado, comecei a escrever meu livro reportagem.
Adiante sempre!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

escancarando porque senti vontade

Tudo aqui é seu. Todo o meu redor tem seu nome. Minhas lágrimas estão pesadas de você; e minha boca inchada do seu beijo. Eu tô cansada de mim, e era você quem me fazia entender qualquer sentido. Mas não pense que morro sem você. Vivo, vou vivendo.
Vou querendo, vou crescendo, vou andando. Adoro lembrar de gargalhadas, acessos de riso por coisas nossas. Adoro mesmo. Mesmo de longe, é bom saber que isso tudo aconteceu. É bom ter certeza de que reparti com você coisas tão minhas. E é uma pena que poderia ter feito isso de forma melhor. Tenho certeza que, de algum jeito, isso vai me ajudar. E te ajudar. Que vamos nos encontrar bem melhores. Você estará cursando arquitetura e tendo um papel primordial como diretor de arte de alguma empresa; seu cabelo estará grande de novo e você estará fazendo terapia há meses: estará tentando se encontrar e me dirá que está encontrando. Quero te rever quando eu estiver com meu cabelo roxo, estrelando uma peça de teatro e morando num apartamento bem quentinho; com um rádio tocando aquela música da Capitu que você gravou pra mim [estarei dançando na cozinha ao ouví-la]. Você gravou muito pra mim. Gravou eu mesma em mim. Gravou em mim a ideia de alguém companheiro mesmo. Pretendo me espelhar em você. Tenho muito que aprender com você, meu eterno você é você. E eu sei que eu te amo muito.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Prazer, Mariana Tango

Sofri de uma gripe crônica e mortal no dia de ontem e na madrugada, principalmente.


Alucinadamente, passava a mão pelo cabelo e sentia o suor indeciso por frio ou calor, tentava respirar pelos vãos da narina congestionada, engolia saliva na esperança de sanar o ardor na garganta, girava para todos os lados e buscava ângulos incríveis naquela cama que se tornou uma tortura horizontal na noite passada.
Sonâmbula, tentava tragar para dentro a calmaria da noite que era silêncio. Só ela seria capaz de apagar meu incêndio, minha inquietação, minha gripe fulgaz.
Digo fulgaz porque acordei renovada. Saltei da cama como quem desperta para uma viagem ao Caribe. A manhã se fez reluzente, coberta de luz amarelada no céu e minha cama, tormento durante a noite, se tornou templo de minha alegria matinal. (É claro que, publicidade gratuita a parte, me entopi de benegripe e do melzinho com própolis milagroso de espirrar na garganta)
De qualquer forma, sabe aquele torcicolo postado aqui embaixo a umas 24 horas atrás? E essa gripe intensa e efêmera que me fez viver e sonhar um pesadelo real na noite anterior?
Tudo isso foi levado a não sei onde com o vento da instabilidade que me consome por inteiro.
Hoje, analisando os fatos relatados neste espaço virtual, sempre tão cheios de devaneios intensos e dores profundas, percebi que meu pai tem toda razão.
Lendo minhas inquietudes, revoltas e inconformações com a rotina mundana (sempre seguido de um depoimento polianês cheio de amor pela vida) tive a certeza que ele, meu pai, realmente sabe mais de mim do que eu mesma.
Outro dia, enquanto eu ria logo após uma declaração feita aos prantos de que minha vida não tinha sentido, ele soltou essa: "Mariana deveria se chamar Mariana Tango."
Ri:
- Tango?
- Sim, você é um tango.
Nunca alguém teria me definido tão precisamente. Quer dizer, já sim. Ele mesmo sempre sabe me dizer quem sou das formas mais inusitadas e deliciosas...
É daí que vem aquelas ideias de que o nosso pai é sempre o melhor do mundo! Realmente, não poderia haver ninguém mais perfeito pra me lançar à Terra.


sinta o drama...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Torcicolo

7:00. Acordei: ótimo, vou mais cedo ao trabalho. Sentei na cama, estiquei-me até ouvir os estalos dos ossos, levantei. Andei até o banheiro – xixi matinal. Chuveiro, sabonete e a sensação de limpeza. Enxugação, pensamentos borbulhando longe dos pés sendo enxutos. Em frente ao espelho: hidratante corporal nas panturrilhas ressecadas. Ao primeiro passar do pente nos cabelos embaraçados, CLEC. O torcicolo que me torturaria pelo resto do dia.

O peso das preocupações me fazendo atentar a ele, e não a elas.
Elas, me lembrando de que não valem nada.
Eu controlando minha fúria e treinando minha capacidade de meditação cotidiana.
O pescoço refletindo e queixando minha falta de organização mental.
Os pensamentos rindo de mim.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

conforto plástico

já adquiri um ódio pelas sacolas há algum tempo. não, eu nunca lembro de pegar uma das várias sacolas ecológicas que têm aqui em casa pra levar comigo nos lugares. mas isso tem mais a ver com o fato de eu não ser uma pessoa nem um pouco precavida (péssimo e excelente; meu céu e meu inferno). enfim, vivo saindo da padaria equilibrando saco de pão, garrafa de refrigerante, pacote com mussarela e copo de requeijão com minhas duas únicas mãos.
percebi que não morreria de falta de conforto um dia que me aventurei a pegar tudo sem sacola e, surpreendendtemente, eu não morri. foi da loja pro carro e do carro pra casa. não doeu, nem nada. eu juro! (quem anda de ônibus ou a pé com mais frequência, tem que se esforçar mais pra lembrar das ecobags, né...e para os que andam de carro e querem um mínimo de conforto, é legal andar com uma caixa de papelão no porta malas, ecobags pelos bancos de trás, essas coisas...)
Continuando... quando não consigo fazer a mocinha do caixa entender que eu NÃO PRECISO DE SACOLINHA PLÁSTICA PRA POR UMA CARTELA DE NEOSALDINA, me dá até vontade de chorar. sinto um asco só de pegar naquela sacola e de pensar na sua inutilidade, especialmente, numa situação como essa.
Mas a partir de hoje, meu desprezo infinitou e quero compartilhar. Descobri o absurdo em números:
* Anualmente, o mundo todo consome 500 bilhões de sacolinhas plásticas, o que significa um consumo de 1 milhão por minuto. E o problema mesmo é que elas são feitas de um plástico que não se desfaz com o tempo, ele fica pelos aterros sanitários, oceanos, rios, riachos, chão, rua, lixo, esgoto por mais de 100 anos.

* A cada milha quadrada de oceano, existem mais de 46 mil detritos de plástico e, anualmente, eles causam a morte de 1 milhão de pássaros marinhos, 100 mil mamíferos aquáticos, entre outras espécies.
Fontes

Ministério do Meio Ambiente

Programa Ambiental das Nações Unidas (Unep, na sigla em inglês)

Será que podemos pensar melhor se o conforto é realmente mais importante que o destino de nossa espécie na Terra?